terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Da desunião duradoura (trecho)

A separação seria a melhor solução. Assim pensavam os vizinhos, cansados de ouvir os gritos e também os homens da coleta de lixo, cansados de juntar cacos. Mas ela, por pena, e ele, por comodidade, adiavam a decisão indefinidamente. 

As cenas já se fizeram corriqueiras. Eles brigam enquanto bebem uma cervejinha, brigam enquanto ela amorosamente lhe prepara a janta, brigam enquanto não dormem, na cama que já dividem há mais de vinte anos.

Antes de dormir, rezam rezas muito íntimas e sem sentido. Agradecem a vida que levam e para tudo dizem amém.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Nos momentos mais difíceis - antes de um poema de A. Augusto

Só hoje me dei conta de
que suas frases soltas
eram para me ajudar!
Antes que me possa desculpar,
quero dizer que percebi
que sempre acreditei
que poderia vencer meu vício
de amar você;
agora, quando me sinto mais só
e vejo o fim ainda mais nítido,
resolvi dizer que me abriguei
em lembranças diversas
para suportar a sua ausência,
e que a saudade, por vezes,
bateu tão forte que até
um corte no meu peito abriu.
Sei que agora é tarde
e que a encontrar a esta
hora seria impossível,
mas não custa registrar:
eu ainda me lembro
que você dizia
nos momentos mais difíceis:
Ah! Se o Zico estivesse jogando...

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Nos momentos mais difíceis [2] - a partir de um poema de H. Tafuri

Nos momentos mais difíceis [2]

Nos momentos mais difíceis,
apelavam pro santo de predileção
ou lamentavam a ausência do Zico
ou afogavam as mágoas ao som dum samba-canção.

De tudo - samba-canção e santo e Zico -,
pouca coisa resta vivível. E pelos templos vazios
da memória fico a buscar (des)caminhos
por onde novamente passear.

Como se os mortos -
que já estiveram vivos antigamente
e torciam pro Zico, e gostavam de samba-canção e rezavam pro santo -,
com devoção,
andassem de novo por sobre a terra.

Confuso, vejo que ninguém segura mais a minha mão.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Poema Panfleto

Trago
a
pessoa
amada
em
três
dias.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

cu-rrículo late-se


tola
a vida
ávida
lota-se
atola-se
átomo a átomo
átimo íntimo
a vida viola-se
ao som de uma moda de viola
violenta-se violeta
vinga-se por birra
berra como cabrito
cobra-se carbono
crânio crivo credo
posta-se
postula-se
pústula
porra pende do pau
pro poema ter cara de protesto
manifesto mamífero defeca
suas próprias pernas

povoa-se
linka-se
retweeta-se
neologisa-se à mercê de abnts
eletrocardiogames:
fala-se
escuta-se
apresenta-se
letra a letra & letra
letrante
letreiro
letrista
letrólogo
(le)t(r)úmido
letárgico

pelos poderes de google
acadêmico endêmico piada
lota-se
o ventre
frio
de medo
por medo
a menos que
tudo
vire
bosta

foda-se!

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Surda e Sonora

Vi
Vilão
Veloz
Fazer
Façanhas
Fúteis
Quebrar
Gritando
Vidoro
Fosco

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

"Edital para recepção de poesias da Revista Encontro Literário"

Revista Encontro Literário
Edital 02 de 2011 (Poesia)

A Revista Encontro Literário tem como objetivo fomentar a produção literária, bem como o prazer da leitura. Para isso, iremos publicar dois editais: o do primeiro semestre será dedicado ao gênero Conto e o edital do segundo semestre será contemplado o gênero Poesia.

REGULAMENTO
Art. 1º – A Revista Encontro Literário, por meio deste edital, abre inscrições para publicação de Poesias, com temática livre.
§ 1º – As inscrições serão gratuitas.
§ 2º – Ao se inscreverem, todos os candidatos aceitarão automaticamente todas as cláusulas e condições estabelecidas no presente regulamento.
Art. 2º - Serão consideradas duas categorias, a saber: Categoria Juvenil (de 12 aos 17 anos) e Categoria Adulta (a partir de 18 anos)

Das inscrições
Art. 3º – Podem participar do edital quaisquer pessoas, desde que o texto seja escrito em língua portuguesa.
Art. 3º – As inscrições serão realizadas através do e-mail revistaencontroliterario@yahoo.com.br no período de 15 de setembro a 30 de outubro de 2011.
Parágrafo único – Não serão aceitos textos discriminatórios, pornográficos ou que façam apologia às drogas.
Art. 4º – Cada participante pode se inscrever com 1 (um) trabalho. As poesias devem ser inéditas, ou seja, que ainda não foram publicadas em livros, jornais ou outros meios.
§ 1º – As poesias devem ser enviadas em arquivo Word (preferencialmente versão 2003), para o e-mail revistaencontroliterario@yahoo.com.br
§ 2º - No campo assunto deve ser mencionado a categoria pertencente (juvenil ou adulta).
§ 3º - Em arquivo separado da obra, devem ser enviadas as seguintes informações: título da obra e dados pessoais (nome completo, endereço, telefone de contato, e-mail) bem como um breve currículo.
§ 4º - Os trabalhos devem ser digitados em editor de texto eletrônico Word ( preferencialmente versão 2003) seguindo as seguintes configurações:

a) Fonte Arial ou Times Roman, tamanho 12;
§ 1º – Ao enviar as produções literárias o participante tem a plena consciência de que autoriza a Revista Encontro Literário a publicar suas obras sem nenhuma espécie de ônus para a revista.
§ 2° – Os autores que tiverem suas obras selecionadas para publicação receberão como premiação certificado de Menção Honrosa.
b) Espaçamento entre linhas de 1,5 cm.
c) Cada poesia não deve exceder o limite de 02 (duas) laudas.
Art. 5º – Serão selecionadas 3 poesias em cada categoria, para publicação no site da Revista Encontro Literário, inscrito no endereço http://www.revistaencontroliterario.blogspot.com/

Da comissão julgadora
Art. 6º – A Comissão Julgadora é composta pelos editores e colaboradores da Revista.
Parágrafo único – A Comissão Julgadora terá autonomia no julgamento, que será regido pelos princípios de originalidade. A decisão da comissão é irrevogável.

Do resultado
Art. 7º – O resultado do Concurso será divulgado em dezembro de 2011 no site www.revistaencontroliterario.blogspot.com. A publicação das obras selecionadas acontecerá no mesmo mês.

Das disposições finais
Art. 8º – Os casos omissos serão decididos pelos Editores da Revista.
Juiz de Fora, 14 de setembro de 2011.

Editores
Raphael Reis
Paulo Tostes
Aílton Augusto

sábado, 24 de setembro de 2011

Currículo Lote-se



Currículo Lote-se

Não dos pênaltis nem das punhas
batidos nas e pelas peladas.

Não da versalhada escrita à ligeira,
toscamente arranjada, para 
talvez um dia ser vendida,
na feira.

Não dos amigos 
nem dos incidentes de viagens.
Não do frio na barriga, 
nem da cara dura  
e ainda menos das piranhagens.

Não. Nos tempos que correm,
o que se exige do homem,
é que lote-se de "seriedade". Mais: 
que lote-se de "produtividade".

Que escreva artigos, 
que publique trabalhos,
que defenda dissertações, 
que prepare teses.

Para alimentar o insaciável currículo lote-se,
a vida lota-se
de fezes.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

EDUCAME


Mata meu filho.
Mata meu corpo.
Mata o amor.
Mata o sabor
Da carne de porco.
Matame um pouco.
Dorme em meu seio.
Suga meu néctar.
Me puxa o cabelo
E me chama de tua.
Deixame nua
E matame um pouco.
Deita em meu corpo;
Matame pouco.
Chorame torto
Sem pena ou desgosto.
Como minha boca
E chupame toda.
Ama minha alma
Meu erro e meu gosto.
Beija meu rosto
Minha testa e me cheira.
Me leva em teu peito
E rompe minha veia.
Sou tua e em ti.
Me entenda e me queira.
Apenas me aceite
Sem pergunta ou vírgula.
Sentame e me bebe
Meu cuspe e meu leite.

Saudade
Veja a verde mata
montanhosa e nossa
nascendo por detrás do orvalho.
Sinto tua pele dissolvendo
meu corpo e transgredindo
em minha alma natural e úmida.
Percebo o cheiro de mato
arrancando meus olhos donada
e mirando minhas fuças
no mentolado de teus beijos,
e no rebolado de teus quadris.
(Bebo um café para administrar o intelecto
e componho alguns versos para suportarme
semti.)

Verdades provisórias


a presidente do nosso país
não escreve poesia
o governador do nosso estado
não escreve poesia
o prefeito da nossa cidade
não escreve poesia
o técnico
o craque
o camisa 10 da seleção
não escrevem poesia
sequer o beque central do tupi
ou o locutor da rádio am
escrevem poesia

ora, burocratas,
será mesmo preciso trocarmos um de nossos rins
pelo comprovante de residência
que de arte não entende nada?

o que devemos preencher?
que alterações fazer?
os eus – asinus cum lyra –, os outros e a parede
escrevemos poesia,
concêntricas  mixtūrae litterārĭae sem gracejo;
nosso pequeno manual de pseudagem
foi legitimado ao estudado em plena academia –
mordam-se, vacúolos autofágicos!

o quê?
claro que não!
engulam suas mentiras permanentes
e nos deixem os rins
em paz.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Saúdo aos companheiros verdadistas


Saúdo aos companheiros verdadistas,
que na tarde cálida,
me tiram da burrocracia esquálida
para o calor e a cor da poesia da vida!

Gonzaga, nas Minas setecentistas,
dizia em meio tom à ingênua Marília: gozemos!
E hoje, aos poetas da "geração dez", eu digo,
em altos brados:
publiquemos!

Publiquemos e saltemos do anonimato
para a plena luz do dia.
Apesar da crítica,
apesar dos entraves da Funalfa
e apesar dos trambiques dos caras de Brasília.

Saúdo aos companheiros verdadistas
e a eles me junto com minha pouca poesia.
E que de tudo nos sobre o blogue, e a blague
e essa agitação alegre, sem traço de sensaboria.

Ilustração deste post: "La alegría de vivir", de Pablo Picasso. Reprodução disponível para visualização em http://pintura.aut.org/.

Definição

É chama,

Que chama.

Torna-se cinza,

Nubla-se

Desfaz-se e marca

Fica a ausência

Poema Insosso

Não falo

Ou verso

Só em impotências

Também sei

Ou penso

Sobre aparências

Assim, consigo,

sem esforço,

escrever um poema insosso

domingo, 11 de setembro de 2011

Bu!

Não tenho mais paciência pra mim.

Não tenho mais ciência de mim.


Não tenho e não permito meu coração

esboçar sequer saudade de quem me ama

ou de quem me recordo.


Acordo com todas as possibilidades de vida

gritandome ao pé do ouvido

como o apito insano desse maldito trem

que me atravessa.


(e desisto)


Me corta e reparte em mil pixels

de sangue coagulado e negro,

fragmentando meus desejos

e manchando no muro pardo da cidade de cristal

o único nome que nunca assinei,

e pelo qual nunca fui chamado.


Vida.

Fervendo e reverberando, no tempo mudando,

no vento cantando, na vida convalescente.

Vida, verve, verme;

Vermelho e degredo,

Segredo e obscuro.


Linha reta que alumeia e nocauteia.

sábado, 10 de setembro de 2011

Youngueana


Tamo zen demais, minha gente.
Vamo sacudir isso um pouco
Senão nossa sombra vai ficar entediada.