sexta-feira, 22 de abril de 2011

O resto não existiu (fragmento)

Uma senhora se senta na cozinha de sua casa e escreve, com letra insegura, em um caderninho que intitula de diário. Anos depois esse mesmo caderno será manuseado por seu neto e este, entre maravilhado e nostálgico, tenta compreender os motivos por que sua avó escreveu certas passagens de sua vida e omitiu outras que ele conhece de ouvir falar. Mais: pensa como ele pode reunir todos os fragmentos de vida que estão ali descritos e deles fazer algo.

Seu maior desafio: o material de que dispõe é muito diáfano e muito disperso. A avó trata de fatos distantes no tempo e aos quais esse neto esteve ausente porque nem sequer habitava este mundo. Como conhecerá ele o resto? Que será o resto? O resto não existiu. Essa é a premissa que rege seu trabalho. E uma vez que o resto não existiu, ele pode ser criado ou imaginado.

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