terça-feira, 2 de novembro de 2010

... da série "Minhas criações alheias"

3. O que me deste (a partir de um poema de Camila Fonseca de Oliveira)

O apreço que diz não me ter,
eu nunca o quis receber.

Seu sentimento,
com meu consentimento,
fez-se pau, pedra, cimento.

Não, não me ofereça o seu lamento:
a mim me basta minha própria dor,
que a um só tempo é alento e é prazer.

Mórbido que seja,
há gosto para tudo.
Há apetite para tudo.

E contudo deixo-me prender,
recebendo, mas fingindo não querer,
sua luxúria e sua cobiça e sua preguiça,
só para me satisfazer.

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